Nasci cá e conheci-me sempre aqui. Sempre, sempre, sempre. Nunca saí daqui praticamente. Para mim, a aldeia é sempre a mesma coisa, porque eu toda a vida aqui estive. Nunca vivi noutro lado e daqui só ali para o cemitério. Já fui a Lisboa umas três ou quatro vezes, porque a minha filha casou-se e foi para lá. Ao princípio ainda lá fui. Agora não, porque os filhos estão a trabalhar, o marido também e ela é que está a tomar conta lá da casa e do quintal. E, é claro, para virem para aqui, não podem lá estar. Vêm a um dia e vão ao outro. Não digo que não vá lá a Lisboa.
Ainda aqui há tempos, fui lá estar três dias com um neto meu. E agora, em qualquer altura que eu lá possa ir, que me levem, que eu não vou lá ter!
A nossa terra é diferente. A freguesia é da Benfeita. Nós somos dessa freguesia: Pai das Donas, Luadas, Dreia, Deflores, Relva Velha, o Sardal, Enxudro e, então aqui, Pardieiros. Está a Fraga da Pena, está a Mata da Margaraça e nós estamos no meio. Antes, era Aldeia de São Nicolau. Depois botaram Pardieiros, e ficou sempre assim. Agora até botaram ali, em baixo, na estrada, uma placazinha. Às vezes, passam aí ranchos que eu nem conheço ninguém! Tem passado aqui muita gente, aqui por baixo. Deixam os carros na Fraga da Pena, vêm por aqui dar uma volta e depois seguem.