Andei na Mata da Margaraça até à idade de uns 40 e tal anos. Toda a vida trabalhei muito. A Mata era bonita em primeiro, mais bonita que agora. Havia tudo cultivado! Os chãos cheios de renovo! Eu tinha lá um chão que dava 4 arrobas de batatas, 45 alqueires de milho e 2 alqueires de feijão. Era a pensão que eu dava todos os anos para lá. Tínhamos renovo para a gente e ainda vendíamos às vezes. Acartávamos o milho para casa e depois tínhamos de acartá-lo para os moinhos na ribeira. Muito saco de milho e farinha acartei em cima das costas! Chegávamos a encher arcas de farinha para os animais. Agora já se criam porcos com sacos de farinha de ração. Já não é como dantes. A gente cozia paneladas grandes de comida para eles. Até cascas de feijão e botelha metíamos lá. Era um trote! Agora é muito diferente, criam os porcos sem custar.
Os dias de trabalho eram dias bonitos, que a gente tinha saúde. Começávamos de manhã, até à noute, sempre a trabalhar, sempre a trabalhar e nada metia medo! De manhã, íamos ao mato, tratávamos dos animais, fazia-se o almoço e levávamos à fazenda. Todos os dias tínhamos que levar o comer à fazenda. Eles, e o meu marido, andavam a cavar a terra. Nós tínhamos que levar o comer ao meio-dia. De tarde, tornávamos para a mesma vida. Ora sachar milho, ora regar, ora cortar bandeiras... Depois secava-se o milho. Estas eiras “pia cima” era tudo cheio de milho. Este ano ainda semeei no meu quintal. Ainda tenho ali umas seis ou sete espiguinhas de milho, mas agora está tudo cheio de erva “pia baixo”, porque o javali come tudo. Não se cria aí nada.
Reformei-me por invalidez, ainda não tinha a idade, porque trazia um problema comigo. Até estive lá num hospital e tudo. Depois logo veio o dia que eu fui para a reforma. Mas ainda fiquei um mês de espera, porque eu tinha uma consulta marcada para ir ao médico. Se eu não digo que tinha consulta marcada, reformava-me logo esse dia. Mas disse que tinha recebido uma carta para ir ao médico... fiquei à espera ainda quase um ano. Mas depois lá me reformaram.