Aprendi a ler quando o Santa Maria foi apreendido no 25 de Abril. O meu marido andava no Vera Cruz. Porque eles às vezes mudavam de uns barcos para os outros e depois não os deixavam vir. E depois disseram-me:
- “Ai! Vem isto no jornal! Olha, não os deixam vir! Ai, coitadinhos! Morrem lá à fome. Matam-nos! Não os deixam vir!”
O meu marido andava lá e eu muito aflita. A minha aflição! Digo assim:
- Ora eu que não sei ler! Ora eu que não aprendi a ler!?
Mas tanto pedi a Deus, tanto pedi a Deus, que comecei a ler o jornal! Depois eu tinha um primo que me dizia assim:
- “Eh pá! Tu agora és burra, porque queres! Aprendes a ler e aprendes a escrever.”
E eu:
- Agora já não me interessa. Da idade que eu tenho, andar agora a aprender na escola já não me interessa.
Mas agora já nem o meu nome sei escrever.