Também fiz teatro. Eram peças de teatro. Eu fiz uma com um rapaz que era assim: eu a passar a ferro e depois cantava assim:
- Mas ó que treta que têm os rapazes, de tudo são capazes de dar uma volta à pinha, não se derreta com a sua lábia manha escorrega que é manteiga e cai que nem galinha.
E depois pousava o ferro e dizia:
- Ai ai o que cerrou as minhas esperanças em casar, mas quem é que há de querer rapariga pobre e de mais a mais orfã de mãe e pai?
Depois vinha o rapaz:
- “Quero-a eu menina Mariana se porventura lhe agradar este meu fisico.”
E eu dizia-lhe:
- Tu pobre Aleixo, desculpa o que eu te digo, mas não és marido que eu imagino.
Mas dizia ele:
- “Ah, bem sei que o marido que a menina imagina é um homem alto de bigode louro e que usa robone e badine e curto da vista.”
E eu dizia:
- Não penses que eu vou procurar um desses ingentes para meu marido, eu procuro é um homem honesto e honrado que vive honradamente do seu trabalho.
E ele:
- “Então nesse caso aqui estou eu menina Mariana.”
E eu dizia-lhe assim:
- Deixa-te de coisas vai-me buscar as compras, vai buscar o cesto que está no canto, bruto.
E ele então ia a andar por ali à procura e então dizia-me:
- “Ó menina Mariana onde é o canto bruto?”
- O canto é aquele e o bruto és tu!
E ia-se embora. Depois vinha uma carta do Brasil de preto e ele dizia:
- Ai uma carta para o Aleixo e vem do Brasil, vou a ler a ver o que é que diz:
- E depois vou a ver e “Morreu o seu tio Barnabé Dias a fortuna é de dois mil contos e o seu universal herdeiro André Fernandes.” Ai o Aleixo com tanto dinheiro e eu sem nada.
Nisto entra ele e eu dizia:
- Ó Aleixo tens aqui uma carta. Toma e lê.
- “Leia a menina, bem sabe que eu não sei ler.”
Ele vinha zangado de eu lhe ter chamado bruto. E depois eu comecei a ler:
- Excelentíssimo Ilustríssimo Senhor Aleixo Dias de Sousa.
E ele dizia:
- “É como eles tratam um politico.”
- Participo-lhe que deu a alma ao criador, seu tio...
- “Criador de cabras e ovelhas”
Dizia ele:
O seu tio Barnabé Dias Malte de Sousa nomeou seu universal herdeiro André Fernandes.
E aí começava ele:
- “Ai! Ai meu rico tio.”
Aí já era meu rico tio, depois dizia:
- Toma agora lá Aleixo, vai levantar a fortuna que é de dois mil contos.
Aí, ele ficava maluco. Depois o Aleixo vai levantar o dinheiro e depois:
- “Ó dona Mariana e agora como é que se levanta o dinheiro?”
É com as mãos.
E ele dizia assim:
- “Olhe que era com as mãos já eu sabia.”
E vai-se embora. Depois daí a nada vem ele todo preparado, de óculos, de bengala. Eu nessa altura já não estava no palco, estava ele sozinho.
- “A Mariana me vendo concerteza inveja tem, mas já que me chamou bruto, bruto é quem não tem ninguém.”
Era a professora que cá estava é que nos ensinava, a dona Isaura. Já morreu.