Os homens dos Pardieiros iam todos embora! As mulheres ficavam aqui a trabalhar a terra e eles iam para Lisboa, ganhar dinheiro a venderem hortaliça pelas ruas e coisas assim, naquele tempo. Lá iam morar todos juntos. Chamavam-lhe as casas de malta.
Os meus irmãos mais velhos, o meu pai levou-os para Lisboa e empregou-os. Um trabalhava no Terreiro do Paço nestas coisas do Estado. Outro era estabelecido no Chiado com a Casa das Utilidades. E outro trabalhava em restaurantes. O mais novo, estava nos Açores na tropa. Estava cada um em seu lado! Os que iam crescendo iam-se indo embora.
Eu também para lá fui quando era solteira. Devia ter os meus vinte e poucos anos, aí uns 23, 24.
Depois fui morar para Chaves quando me casei. Eu queria vir para os Pardieiros. Ele queria lá. E o meu marido um dia disse-me assim:
- “Olha, vamos fazer um contrato.”
Eu disse- lhe:
- Quero a casa na minha terra. A tua é de muito longe.
E ele disse-me:
- “Então vamos fazer um contrato. Se fizermos a casa na tua terra, tu tens que me governar a mim. E se fizermos na minha, tenho eu que te governar a ti.”
E eu disse:
- Então, vamos para a tua!
É que lá as mulheres são umas fidalgas. Lá se quiserem ir buscar um molhito de erva, ou de labrestos para os coelhos, levam a burra para trazer aquilo em cima da burra. E ainda vêm elas. Ou vêm no tractor. Não carregam com nada. E o trabalho é todo feito à máquina.
O meu marido fazia a sementeira de um terreno que lá tinha que dava aos 90 e aos 80 alqueires de centeio. Ele ia fazer a sementeira e eu não dava por isso. Chegava a casa e dizia:
- “Olha, a candeia já está semeada.”
- Ah! Então como é? E a semente?
- “Passou aqui o tractor. Pus-lhe os sacos da semente. Fui-o semear. Olha, já está!”
Lá era assim. E aqui? Como era? Tínhamos que cavar a terra. Tínhamos que o semear. Tínhamos que atupir a terra. Era diferente. E carreguemos com tudo.
Em Chaves eu cheguei a ter 70 cabeças de ovelhas. Fazia dois queijos por dia. Queijos grandes. Tinha uma cunhada que tinha nove filhos, muito queijinho comiam! Lá nem sabiam mugir as ovelhas. Eu é que as ensinei. Depois, então, fazia o queijo. E eles, coitaditos, algum queijo comeram. É assim a vida.
Voltei para os Pardieiros porque o meu marido morreu e eu já lá estava há 13 anos sozinha, com a família dele. Os meus sobrinhos iam-me lá visitar. E depois a minha sobrinha convenceu-me a vir para aqui para casa dela e eu vendi tudo e vim.
Quando cheguei estava tudo mais modificado, mais modernizado.