Fui para Lisboa, para casa de uns senhores com uma tia minha, que nasceu aqui e foi criada deles. Foi para lá e lá casou, teve um filho e baptizaram-no. Foi para casa desses senhores que eu fui. Tinha seis criadas. Eu era criada, ajudante de cozinha e fazia o serviço da porta. Aquilo era uma casa muito rica! O irmão do meu patrão era professor, em Almada, no Seminário de lá. O doutor Carlos Azevedo e o senhor doutor Falcão, que é mais que padre em Beja, isto tudo era a família. Era uma família muito boa.
Um dia, quando casou a filha mais nova, em Constância, todas as raparigas queriam ir ao casamento, já eu estava casada, e a minha patroa disse-me:
- “Olha Natalina tens que cá ficar, que elas todas querem ir ao casamento e a casa não pode ficar sozinha.”
E eu digo:
- Ai minha senhora, se o meu marido cá estiver fico, mas se ele não estiver não fico.
Ela andava então a telefonar para a companhia, para saber quando chegava o barco.
Depois um dia telefonou para casa do meu tio a dizer:
- “Olhe, a Natalina, o marido chega tal dia e ela está cá. Ela que venha cá falar comigo.”
Lá fui eu, para lá ficar. Foram todas para o casamento e eu fiquei a tomar conta na casa. Quando o meu patrão veio, diz-me ele assim:
- “Ó rapariga, o que é que tu me roubaste cá em casa?”
Digo-lhe eu assim:
- Estive para lhe roubar uma garrafa de vinagre, mas depois tive medo e era pecado, nem lha roubei.
- “Então agora vais levar um garrafão de 5 litros.”