Nos namoros, umas eram mais malucas. Eu graças a Deus nunca fui. Há aí todo o mundo que diga. Eu fui sempre muito fidalga no rapaz. A minha patroa dizia-me assim:
- “Tu assim nunca te casas rapariga. Tu nunca te casas.”
Uma vez, fui à Estação do Rossio levantar uma encomenda que vinha da quinta dos meus patrões, que eles tinham herdades no Alentejo e no Ribatejo. Fui levantar uma encomenda que eram dois perus, que vinha da quinta de Vale de Zebre. Um rapaz foi atrás de mim todo o caminho. Do Rossio para o pé do Marquês de Pombal, com os dois perus. Mas eles vinham os dois numa alcofa, um com a cabeça para um lado e outro com a cabeça para o outro. O rapaz falava, falava mas eu não lhe respondia. Quando eu cheguei à porta é que toquei à campainha, vai ele assim para mim:
- “Olhe menina, nunca vi um peru com duas cabeças só hoje.”
Isso nunca me esqueceu!
Eu para namorar, nunca era assim muito namoradeira.
Havia também um rapaz daqui, que ainda aqui há tempos queria que eu fosse para ao pé dele, nem que fosse só para companhia. E tive um do Sardal também. Esse era de gente que tinha um lagar de fazer azeite ali em baixo nas barrocas. Também não o quis porque ele era muito namorador. Em todas as terras tinha uma namorada.