Os meus pais chamavam-se Urbana de Jesus e Manuel Duarte. A terra deles era o Sardal, uma aldeia próxima. Vê-se da rua do Outeiro, no Barroco de Cima.
De feitio os meus pais eram bonzinhos. O meu pai era muito alegre. A minha mãe também. Mas o meu pai era mais alegre que a minha mãe. Éramos seis filhos, cinco raparigas e um rapaz. Éramos divertidos e alegres, graças a Deus.
Os meus pais trabalhavam no campo. O meu pai foi leiteiro em Lisboa. No tempo em que lá estava, já homem, andava na rua com as vacas. Nesse tempo, o leite não era vendido nas leitarias, era mesmo com as vacas. Mugiam-nas na rua ao vivo, para as pessoas comprarem o leite. Serviam assim os fregueses. Depois, quando era mais idoso o meu pai rumou para a terra.
A minha mãe não foi para Lisboa, coitadita, ficou cá a criar os filhos e a cuidar da vida da casa. O meu pai vinha cá volta e meia. Também era ela que tratava da terra. Tratava de alguma coisinha enquanto pôde. Plantava milho, batatas, feijão, cebolas, alfaces e o que era preciso. Os filhos lá iam trabalhando, quando podiam já.
Naquele tempo a relação dos filhos com os pais era boa. Havia muito respeito, não era como agora, que se chamam os pais por tudo que é uma vergonha. Não era. É triste ver como a gente foi criada e agora não há respeito nenhum pelos pais. Nós tínhamos o máximo respeito. Basta isto, a gente comia o almoço e não nos levantávamos da mesa sem rezar. É verdade.