Um ano esteve aí um professor novo que era muito reinadio, era um tipo com uma certa categoria e pensou um dia em arranjar uma corda. E pensou em pôr tantos dali, tantos daqui. E a puxarmos no largo do areal, chama-se o largo do areal. Então a certa altura a minha equipa estava a perder e eu fiz sinal aos colegas:
- Rapazes, larguemos a corda!
Devagarinho, largamos a corda. Os do outro lado caíram todos uns em cima dos outros. O professor, tinha-se metido lá para, para os auxiliar, os da terceira e da quarta. Ah professor do diabo, caiu também de “cambarela” para o meio do chão. A gente ria, ria que chorava. Ao depois dizia assim o professor:
- “Bem feito. Não me fosse eu lá meter.”
Porque a gente não perdeu. Perdemos e não perdemos. Eram 20 ou 30, os da primeira e segunda e terceira e quarta. E o professor que se meteu a favor deles. Chamava-se José Carvalho Duarte. Foi meu professor até à terceira. Primeira, segunda e terceira.
Mas andei lá mais tempo. Tive dois anos sem escola. Quer dizer, um ano não houve professor, depois está claro, atrasei um ano. Depois esse professor deixou-me na terceira. O outro professor, que esteve cá dois anos, não me passou da terceira. No ano a seguir continuei, na quarta classe. E aí consegui, o professor era um professor daqueles! A gente ia para o quadro fazer um problema, nós resolvíamos da nossa cabeça. Mas ele, tinha um livro com a resposta, da pergunta que fazia. Quer dizer, nós tínhamos que resolver o problema no quadro, sabermos se estava bem ou não. Ele para saber se estava bem o problema, ia ver àquele dicionário. Era um professor assim rasca.
Depois eu mais dois colegas daqui da Benfeita, os outros eram das Luadas, do Pai das Donas, dos Pardieiros... E os nossos pais, meu e dos outros dois colegas que éramos daqui, pediram uma professora para nos auxiliar. Porque ele era o tal professor rasca e nós quando os da primeira e segunda saíam, nós aulinha para ela nos explicar. Pelo meio dos outros, embrulhamos e toca a fugir. Íamos para a escola das raparigas. E aí é que eu aprendi mais os outros colegas, pelo menos os daqui. Até que um dia houve um tipo que disse ao professor:
- “Ah, é uma vergonha senhor professor! É uma vergonha os seus alunos vão para a escola das raparigas, os daqui.”
- “Hã? Hã? Eu tenho que os cancelar, tenho que os segurar e tal.”
E digo eu assim para os outros:
- Espera aí. Nós vamos assim. Quando saíam os da primeira e da segunda...
São muitos, eram muitos alunos naquele tempo. A escola era cheia de rapazes. E nós embrulhamos no meio dos outros. Toca a fugir. Até que ele viu que não fazia nada, desistiu. Então aí eu consegui fazer exame e o professor um dia chegou-se ao pé de mim:
-“Ouve lá. Então vais fazer exame?”
- Vou.
- “Eu não tomo a responsabilidade.”
- Não é preciso. Não é preciso. Eu hei-de me desenrascar.
Lá fui. Lá fiz exame. Fiquei bem, tenho na minha casa o diploma dessa data. Depois fui para barbeiro.
A Benfeita tinha duas escolas a nossa e a das raparigas. Não era tudo junto. A escola dos rapazes era onde está a casa da Junta. A professora vivia numa casa próximo da Igreja e lá é que tinha uma sala onde estavam as raparigas, onde ela dava escola.
Não sei porque se separava. Acho que era porque a escola aqui não dava para mais. Só dava para os rapazes. Mas, aprendíamos o mesmo. Para brincar também não nos misturávamos. Os rapazes era no largo e as raparigas lá se divertiam como elas entendiam.