Havia uns médicos em Pardieiros. Havia o doutor Fausto Dias. Agora, o doutor morreu ficou o outro, o doutor Fausto José, que era sobrinho dele. Eram muito bons. Mas eles trabalhavam em Coimbra. Assim como o sobrinho. Mas se a gente estivesse doente e o chamasse, ele vinha. Mas a especialidade deles é garganta, ouvidos e nariz. Era do tio e agora é do sobrinho. De resto não havia médicos. Havia um senhor que se ajeitava, chamavam o senhor Zé Augusto, o barbeiro. Iam chamá-lo e ele vinha cá. Ou então iam à Benfeita, que esse senhor era de lá. E depois ele ia aos Pardieiros, ia à freguesia toda, aqui a muitas terras. Ao Enxudro, ao Sardal, a Monte Frio, a Dreia, a Deflores, ao Pai das Donas, às Luadas. Ele ia a essas terras todas. Não havia cá médico. Era só ele. Ele é que era o médico das pessoas. É que vinha ao meu pai. Dava medicação. Mas também havia remédios caseiros. Papas de linhaça, que botavam no peito. Chamavam papas de linhaça. Botavam num pano, depois botavam outro pano por cima e botavam aquilo às pessoas, no peito. Aquilo resultava, às vezes. Outras vezes não. Era conforme. Se a gente se aleijava, ele cosia a gente. Ou um dedo ou uma perna, como fez ao meu irmão.
A parteira cá da terra era a minha avó. A mãe da minha mãe era Maria da Nazaré Gonçalves. Essa era então a parteira de cá da povoação. E foi minha e dos meus irmãos. Nascemos em casa. Fiava linho e era a parteira aqui da aldeia. Ela era uma jóia para tudo. Chamavam-na para os partos:
-“Ó tia Nazaré venha cá acudir à gente!”
Só uma vez é que foi preciso vir um doutor de Coimbra, o doutor Vasco Campos. O menino foi tirado a ferros. O mais era sempre a minha avó, é que era a parteira. Ela morreu com 97 anos. Eu não sei como é que aprendeu. A minha bisavó não era parteira. Não é por ser minha avó, mas era uma jóia para as pessoas todas. Andavam uns rapazes do Sardal e do Enxudro na escola. Vinham todos a pé, que ainda é longe, e chegavam todos molhadinhos. A minha avó ia chamá-los e enxugava-lhes as coisas todas à fogueira. Eles traziam aquelas capuchas, as sacas, e a minha avó enxugava tudo. E, às vezes, dava-lhes de comer. Ainda hoje há pessoas que falam na minha avó. Esteve há um tempo, na aldeia, uma rapariga que falou nela. O meu irmão é da idade dela e andavam na escola e ele trazia-a, que ela estava toda molhada e trazia-a para ela comer em casa da minha avó e da minha mãe.