Aos 22 anos fui para Lisboa, para a Praça da Ribeira acartar fruta. Era um trabalho duro, mas duro. Um à cabeça, outro de braçado. Depois é que compraram aqueles carrinhos de mão, a gente punha ali as caixas em cima e puxava. A praça era grande. Com muitas pessoas a trabalhar. Estava a praça cheia, não sei dizer quantas eram. A gente tinha pessoas e elas davam, por exemplo, o serviço à gente. E íamos fazer o serviço a essa pessoa. Eu gostava de trabalhar. Ainda hoje tenho pena, porque a gente fazia aquilo numa brincadeira. E então éramos todos amigos, mesmo os senhores que davam trabalho à gente. Ainda hoje sou amiga das pessoas. Tinha um senhor a quem fazia os fretes, foi onde eu fui empregada no Largo da Graça, no supermercado. Ainda há dias ele esteve em minha casa. O convívio era bom. Às vezes, ralhávamos uns com outros mas dali a bocado já estava tudo bem. Eu já tinha em Lisboa três irmãs. E todas as três na mesma rua, na Travessa da Pereira. Mas ainda custou um bocadinho a adaptar-me. Mas depois a gente habitua-se, como tinha as irmãs e os cunhados, já foi melhor. Mas mesmo assim foi difícil. Trabalhei 30 e tal anos. Depois aquilo fechou, foi para mais longe e a gente já não foi. Depois empreguei-me naquele senhor no Largo da Graça. Estive lá três anos, a vender fruta e a fazer a limpeza da loja, num supermercado. Ainda hoje gostava de lá estar. E o patrão bem gostava de mim mas a gente também chega a uma certa idade e também tem de descansar.