Aqui em Pardieiros, agora e sempre se trabalhou na agricultura. Para além do meu pai que era cesteiro, havia também carpinteiros. As pessoas daqui trabalhavam na floresta e governavam-se com as coisas da terra. Havia sempre dias para ganharem dinheiro, agora é que não há. As pessoas foram saindo. Os novos procuraram vida melhor, os velhos vão morrendo e isto está a ficar sem ninguém. Dos que foram para Lisboa, alguns poderão estar pior, outros estarão melhor. Da minha idade, quase que fui só eu que cá fiquei e não sei se estarei melhor, se estarei pior que os outros. Quase ninguém voltou, ficaram lá todos.
Agora temos o correio, distribuído pelos CTT, que vem trazer a correspondência de carro, mas nem sempre foi assim. Antigamente o correio vinha a pé e de burro e fazia mais terras que fazem agora. É da Benfeita que parte actualmente a volta do correio. O carteiro sai de Côja e depois vem dar a volta pelas terras.
Em Pardieiros não há médico permanente. A gente aqui tem que ir a Arganil e lá é que há o posto do hospital, das urgências. Antigamente, dizem que vinha cá um médico a pé e outra vez a cavalo, mas já não é da minha lembrança.
Eu espero não ficar doente mas para cuidar de uma uma constipação, tenho cházinhos. A minha mulher tem muito conhecimento dessas coisas das ervas e às vezes tem chás disto, chás daquilo. Porque ela, como lê os livros tem muito conhecimento das árvores e plantas. Se me aleijar num pé, recorro a uma rapariga que há aqui na Benfeita. Já lá tenho ido para ela me curar. O avô dela sabia e ela também dá injecções e tudo. Não sei se será enfermeira mas deve ter algum curso qualquer. A gente aqui para ir ao médico só se for a Arganil ou a Côja e nem sempre tem lá gente.
Da minha terra só tenho a dizer bem. Eu de culinária não percebo nada, graças a Deus nunca me foi preciso fazer comida. Vou comer a casa da minha mãe, enquanto ela me puder fazer a comida. Mas sei que os pratos tradicionais são: a chanfana, arroz de fressura, arroz-doce e tigelada.
Eu ando por alguns lados e as pessoas às vezes dizem-me assim:
- “Ai o senhor é do Piódão?”;
- Não. Eu não sou do Piódão. Mas sou de ao pé da Fraga da Pena.
- “Ai já lá fui porque é muito bonito! Já fomos ao Piódão.”
Eu também não lhes vou dizer que não. Às vezes eu até digo assim:
- Eu lá a Fraga da Pena até é muito raro lá ir.
E depois dizem-me assim:
-“Ai não me diga que não gosta daquilo!”
- Não, por acaso nem ligo muito aquilo.
Como já sou de cá, nem me lembra quando fosse ali à Fraga da Pena. Mas as pessoas vêm aqui e gostam. Isto poderia estar melhor, por exemplo, se estas casas fossem algumas em xisto.
Quanto às pessoas cá da terra, acho que, quando vêm aí também não tratam mal ninguém, de momento que também não venham fazer mal.