Quando era rapaz novo, na festa de São Nicolau e da Senhora da Saúde, a única coisa que cá vinha era a música e chegava bem para dançarem. A música chegava por volta das nove até às dez e tal. Faziam a missa e a procissão. Depois da procissão, vendiam as ofertas e depois das ofertas havia o leilão da Irmandade. Nesse tempo era só o leilão da Irmandade, agora tem o da Comissão também. Seguia-se a música até à meia-noute. Um dava comida a um músico, outro dava comida a dois, conforme as posses das pessoas e assim passava-se a festa. Havia menos andores do que há agora. Não ia o Santo António e a Rainha Santa Isabel. Faziam tudo pelo caminho do carro de bois. As mordomas eram duas raparigas solteiras. Elas é que enfeitavam os andores. Havia também dois casados que faziam a festa. O mordomo é escolhido pelo mordomo do ano anterior. Ele pode recusar, mas nunca acontece. O mordomo tem que ir falar com o padre, tem que organizar a festa e tem que a enfeitar. Agora fazem peditório, mas antes era o mordomo que fazia a despesa. Já chegaram aí a pagarem os dois mordomos quatrocentos e tal contos cada um, aí há 10 anos.
Os andores saem dali da capela. Depois dão a volta pelo fundo da povoação, vão ao meio da povoação e em cima, ao Outeiro, vêm por ali abaixo novamente, vêm à carreira dar a volta à Senhora da Saúde e regressam à capela. Depois ao outro dia, ainda vem outra vez a Nossa Senhora da Saúde, de lá trazem-na para a capelinha dela.
No leilão, são as pessoas e os mordomos que dão as coisas para serem leiloadas. Uma pessoa dá uma coisa, outra dá outra, uma dá um bolo, outra dá uma garrafa de vinho. Eu costumo dar todos os anos um frasco de mel.
Pelo Santo António, iam às casas roubar os vasos uns aos outros e levavam-nos ali para a fonte, para o chafariz e para a praça. Entravam pelos portões fechados e estavam sujeitos a levarem ali uma trancada.