Contavam a história de um rapaz que namorava uma rapariga e que a desonrou. Noutros tempos, isso era mau, mas ele andava com ideias de casar com ela. Por mal, um da família dele, chamou-o ali numa fazenda para comer e beber. Estiveram, estiveram até o rapaz lhe dar o sono e adormecer. Antes de o matarem, disse um para o outro:
- “Não o matemos. Deixa-o lá. Não, não o matemos.”
- “Então, para que me chamaste aqui?”
Depois, um mau tinha lá um machado, deu-lhe uma machadada e matou o rapaz. Meteram-no lá para um chão, chama a gente um chão. Eu até cultivei essa fazenda com os meus pais. Fizeram um recanto grande, puseram um grande monte de estrume em cima e ninguém o via. As pessoas para irem para outros terrenos, passavam lá e viam muitas moscas. Por onde ele tinha passado tinha ficado sangue, mas as pessoas tinham medo de falar e não falavam. O pai dele andou sempre na justiça a ver se descobria quem é que o tinha morto. Eles desconfiavam, mas não viram e não podiam estar a acusar o homem. Então o pai dele foi a Arganil ao tribunal. Já tinha passado não sei quanto tempo e nada. Ele veio de lá do tribunal, ajoelhou-se no chão e pediu a Deus:
- “Já que a justiça da terra não descobre onde está o meu filho e quem o matou, a justiça divina me faça esse favor e me descubra a morte e onde está o meu filho.”
Nesse mesmo dia pôs-se uma trovoada muito grande. Tudo cheio de nuvens de trovoada. Só choveu lá. Destes lados não choveu nada. A chuva foi tanta, a água foi tanta que levantou o estrume e o corpo. A terra trouxe pela ribeira abaixo as roupas dele e ficaram ali nos paus a andar de um lado para o outro. A justiça de Deus descobriu.