Tenho um filho. Quando veio de Moçambique para Portugal tinha 16 anos. Depois foi para a escola, mas tinha sido o 25 de Abril há pouco tempo e na escola não havia disciplina nenhuma. Ele vinha habituado a disciplina. Nem cabelo comprido nem nada. Todos os meses, ou todas as semanas, ia o inspector ver como é que estavam os alunos. Àquele que trouxesse o cabelo mais comprido, dizia logo:
-“Amanhã quero-te ver lá no meu escritório. Quero ver se esse cabelo ainda vem na mesma.”
E eles tinham que ir cortar. Quando ele mandava tinham que lá ir ao escritório mostrar como é que estava o cabelo, como é que não estava.
Quando ele entrou na escola em Lisboa, já não foi no princípio das aulas. Foi para o fim da sala com o último. Os outros faziam barulhos e falavam muito. A professora estava a explicar as coisas e ele não conseguia apanhar. Era só quando estava a ler Inglês é que não piavam a ouvir. Ele agarrou, chateou-se e não quis estudar mais. Trazia o oitavo ano de lá e ficou assim. Agora é guia de turismo. Mora aqui e lá nos hotéis. Vem de 15 em 15 dias. Praticamente trabalha e comunica com a companhia tudo pela Internet. A vida do meu filho já foi de rei. Ele bota as mãos a tudo e gosta. Praticamente tem levado uma vida 99,5% melhor que a minha.