Trabalhei como carpinteiro na Mata da Margaraça e andei lá na apanha da azeitona.
Andei a reconstruir toda aquela casa que lá está na Mata da Margaraça. E nessa casa que reconstrui ainda tive lá um acidente. Estive mais três meses sem fazer nada. Escorregou-me a escada, bati com o rabo no chão e esmaguei uma vértebra no fundo da espinha. Mais tarde, torno a cair lá em baixo, rente à ribeira, de cima de uma casa para baixo, para a loja. Mais duas vértebras. O disco esmagou, mas a medula nunca se separou.
Depois andei também a apanhar a azeitona numas oliveiras mesmo ao pé do largo. Parte a pernada, só me viram no ar e diz um:
- “Ai! Que ele matou-se!”
Levantei-me, mas como estava assim azamboado com a queda, torno a cair num degrau. Vou para o hospital e fico mais três meses sem fazer nada. Tinha estado três meses enquanto estive na Mata. Depois dali estive outros três sem fazer nada. Passados esses meses, comecei a trabalhar, a fazer algumas coisas.
Trabalhei também como carpinteiro em Monte Frio e em Israel. Em Israel, só andei dois ou três meses de carpinteiro e depois passei a encarregado. Trazia nove homens comigo e comigo éramos dez. Era encarregado, porque sabia falar um bocado de inglês e eles viram que eu não era burro a fazer o trabalho e deram-me logo a chance como encarregado.
As pessoas daqui migravam quase todas para Lisboa. Ainda foram alguns para o estrangeiro, para Moçambique. Eu também fui para Moçambique mais um cunhado meu, que era irmão da minha mulher, a mulher dele e a filha.
Quando fui para Lisboa fui morar numa casa onde estavam mais pessoas daqui dos Pardieiros. Era um género de uma casa da malta. Éramos praticamente nove. Por baixo, morava um casal e uma irmã do casal. Em cima, no sótão, eram só homens. A gente dormíamos parecia que íamos para apanhar as azeitonas. Quando era de Verão era quente que não era brincadeira. De Inverno era frio. Eu agarrei, comprei uma resma de cartão e forrei aquilo tudo. Aí o dono, que era o nosso senhorio, pagou. A gente também pagávamos pouco, 20 escudos por mês cada um. Depois já não era tão quente no Verão e já não era tão frio no Inverno. Cozinhávamos todos na mesma cozinha, mas cada um fazia a comida para si. Ali cada um comia aquilo que queria e lhe apetecia.
Nessa casa da malta onde estive em Lisboa, atacavam as pulgas e se não fosse eu, ninguém matava uma. Elas eram tantas ou tão poucas que eu despia-me todo e ia mexer nas coisas num lado e no outro para as pulgas virem para mim. Quando ia a ver, quase pareciam formigas por mim acima. Toca a esfregá-las e matá-las. Às vezes matava ali 100, 150 enquanto o “Diabo esfregava um olho”. Matava quantas visse, porque eu estava ali e elas atraíam-se sempre para mim.