O meu pai chamava-se José António e a minha mãe Rita da Conceição. Viviam pobremente, infelizmente. Vivíamos da agricultura mas trabalhava-se muito e não se tinha nada. Tudo quanto a gente amanhava, tinha que dar aos donos, a pagar pensões. Eram tempos de miséria. Era só os animaizitos que a gente criava é que iam dando alguma coisita. Passava-se fome. Tinha-se alguma coisita. Era uma batatita que se semeava, umas cebolitas que tinham, uns mimozitos. Agora o milho, às vezes não chegava para pagar a pensão aos donos. Tínhamos o vinhito e os animais criavam-se. Tínhamos ovelhas, cabras e umas galinhitas. Era assim a vida. Era a minha mãe quando estava em casa que tomava conta dos animais. Quando havia meio diazito tinha que ir ganhar para se comprar azeite, o arroz e a massa, e eu ajudava.
O meu pai chegou a andar perto do Porto para a resina. Depois de começar a guerra, em 1942 andou perto de Castro d'Aire. Andou ali na resina mas a vida era má. Quando não havia resina iam para, chamavam, Borda d'Água, para o Alentejo para ceifa do trigo. Andavam lá sete meses para ganhar alguma coisita. Assim iam vivendo a vida.
As minhas irmãs, todas foram servir para ajudar a casa, eu mais o meu irmão é que nunca fomos para servir. Éramos cinco irmãos, três raparigas e dois rapazes. O mais novo vive em Arganil, casou lá e a mais velha também casou em Arganil. Os outros dois estão lá para os lados de Lisboa.