Trabalhei sempre no campo. Era cavar terra, ir ao mato, semear renovo. Semeava milho e batatas, feijão, hortaliça. Uns mimos.
Depois de casado calhei de sair. Fui para a Cova da Piedade e Almada. Teve aí uma temporada que ia-se aí para fora. As pessoas entendiam que se governavam melhor lá. Na Mourísia não se arranjava a vida tão boa como por lá. Há fábricas, há isto, há aquilo. Lá trabalhei em mais que uma coisa. Trabalhei nas obras, quando estava solteiro. Tinha aí uns 20 anos. A minha colaboração era dar serventia a pedreiros. Depois de casado já foi só na fábrica. Fui para a Cova da Piedade trabalhar lá numa fabricazita de moagem, a moer grão. Era centeio e trigo. Era isto que moía. Estive lá para aí uns 18 anos. Nem muito mais nem muito menos. Já lá tinha ido estar uns anos antes de casar. Mas não me lembra. A minha mulher nunca foi para lá. Mesmo casado não foi para lá. Fui sozinho. Ela ficou a tratar da vida. Voltei, para a Mourísia está claro. Fazer vida ao pé da mulher também. Não era ela estar sozinha sempre. Assim não valia a pena então a gente estar casados. Era como que estivéssemos solteiros. Eu gosto mais da Mourísia. Estou à minha vontade.