Havia muito milho. Vendiam muito. Havia muita gente que comprava. Agora não há ninguém. Semeavam-no aos regos “pia além”. Depois faziam outro rego para cima, botava-se o milho, depois abalava-se, sachava-se, empalhava-se e regava-se até se criar. Até dar espiga.
As espigas debulhavam-se com um pau ou no chão, no soalho. Pois. Antigamente não eram placas como agora é. Era um soalho de madeira como as mesas.
Os grãos do milho moíam-se no moinho e cozia-se pão nos fornos. Os moinhos eram tocados à água. Não é como agora alguns. Cada uma tinha às vezes o seu moinho. Outros tinham lá parte. Tinham aquilo dividido. Tal dia é meu, tal noite é minha. Quando calhava iam levar o grão, botavam e moíam. Eu também lá tinha moinhos no Tojo. Ainda lá há-de estar tudo no chão. Os telhados estão caídos, é só as paredes.
A farinha coziam-na, para comerem em pão. Pão de milho. Ainda é melhor que o outro. Eu se o tiver antes quero milho que quero lá trigo. Trigo não é tão bom. Come-se, vai remediando às vezes. Uma vez por acaso. Amassa-se numa gamela a farinha, água e fermento. Depois coze-se. Coze-se em casa, à cozinha num fogão. Antigamente não havia fogões. Era nos fornos que tinham assim fora de casa. Até tínhamos um ao pé, pegado na casa. Tínhamos outro, mas esse forno era de muitos. Tinham as casas pegadas lá com a da minha mãe. E também vinham lá cozer. Aquecia-se com lenha. Então, varre-se com um vassoiro de mato, de moitas, para a porta e depois bota-se o pão para dentro.