Trabalhei na floresta mais de cinco anos, se calhar. A cortar matos, semear pinhão. Era cavar a terra e andavam as pessoas à frente com umas sacas ao ombro e a espalhá-lo. Ganhava 14 escudos, não ganhava mais. Era por dia. E comecei a ganhar 9 escudos, depois foi para 11 depois foi para 14. Assim foi subindo. Comecei tinha alguns 16 anos ou 17. Estava o destino marcado.
Trabalhava também nas minhas terras, quando era mais crescida. Vinha muita vez sozinha. Amanhava aqui na Mourísia e amanhava lá na minha terra. Às vezes deixavam-me fechada em casa. Depois abria a porta e ia lá ter. Fechavam-me em casa porque chegava-me o sono, ficava a dormir, depois acordava e ia para lá ter. Quando era no Verão, no Inverno não.
Era só batata e feijão e mais nada. Dava pouco. Antigamente o renovo produzia pouco. Lá na minha terra não. E para feijão nem era bom. A gente cultivava um poder de terra e não tinha feijão de jeito.
As pessoas iam todas para Lisboa. Eu não, nunca pude ir para Lisboa, porque não calhou. Então o destino é cá.