Enquanto éramos assim mais miúdas, a gente juntava-se por um lado e por o outro e andava à roda, à roda, atrás uns dos outros:
- “Aqui vai o lenço! Aqui fica o lenço!”
A gente estava todos virados para dentro. Punham o lenço de fora. Qualquer pessoa chegava lá, batiam nele, nas costas, e depois tomava-o. Lá ia a outra a andar. E era assim. Fazia a gente mesmo quando era o nabinho. Depois havia o barqueiro. Botávamos os braços em cima aquém, adiante, um dum lado, outro doutro e depois lá vinham eles a passar “pia aquém” :
“Senhor barqueiro,
Deixe-me passar!
Tenho os filhos pequeninos,
Não os posso sustentar!”
“Passará, passará
Mas algum deixarás!
Se não for a mãe de diante,
É o filhinho de trás!”
Púnhamo-lo depois por cima e agarravam no que lá vinha de trás. Era mais raparigas que aí havia. E a gente brincava uns com os outros. Às vezes, lá no mato ainda se a gente entretinha. Uma dizia uma coisa, outra dizia outra. Assim se nos entretínhamos.
Era estas coisitas. Muitas, uma pessoa também já não se lembra, já está desnorteada. Não me lembra de ter bonecos nem bonecas. Não me lembra de ter brinquedos como agora têm. Agora, aquilo é um monte. É o saco cheio. Ainda lá tenho os dos netos e dos bisnetos.
Depois de brincar, vínhamos. Andávamos na fazenda a fazer o que é preciso, a trabalhar para aprender tudo. Semeávamos para aí terras e terras. Andávamos todo o ano a carregar estercos, a cavar e enleirar e tudo.