Antigamente, os filhos nasciam era em casa. Eu tive os cinco à presença de Nosso Senhor. Ah, era a gente a espremer-se ali! Quando era da mais velha, a minha sogra que Deus tem, Deus a tenha em descanso, dizia ela assim:
- “Salta! Salta!”
Ela tinha boa vontade de saltar. Eram as velhas que assistiam ao parto. Quando nasceu o meu João, o que está na França, ainda fui guardar o meu gado além, daquele lado. Vinha ali atrás dessa capela quando me rebentou a água. É verdade. Agora, já vão para o hospital, já levam injecções, já abrem o corpo. Mas eu nunca fui disso. Era uma pessoa ali a sofrer. Aquilo parece que se partiam os rins. Mas, graças a Deus, tudo se criou. Só vieram a um que nasceu e morreu. Ainda tive que dar 8 contos ao que cá veio. Mas os outros, tive-os em casa todos.
Como eu digo, trabalhei muito. Quando fui sozinha, para criar os filhos, via-me à rasca. Às vezes, nem comia de dia. Era só à noite. Coitadinhos, tinha que fazer o comer por causa dos miúdos, para os criar. E, quando estávamos doentes, tinham que ir chamar o médico e ele vinha cá. Outras vezes, tínhamos que ir a Avô. Cheguei a lá ir com a minha filha, com a mais velha. Tinha coisas na cabeça, bostelas. Depois, quando adoeciam, tinha a gente que lá ir àquele médico, que em Côja ainda não estava o doutor Coimbra. E ainda levei o meu filhinho, que Deus tem, a Pomares. Tinha que ir lá levar sozinha, numa cesta. Aí é que eu também dei cabo da coluna.
Primeiro, era só em Côja e em Arganil que havia médico. E agora, ali na Moura da Serra, é que usam vir de 15 em 15 dias. Diz que não há médicos, não há médicos, mas agora lá apareceu um que tem vindo. Mas, como o senhor doutor é a pagar, uma pessoa tem que ali largar 30 euros por cada consulta. O que é que a gente há-de fazer? Como eu sou muito doente, se não é de uma coisa, é de outra. Mesmo assim, graças a Deus, nunca fui operada.