Os meus pais chamavam-se Eduardo Lopes e Maria de Jesus. Eram primos. Andavam na agricultura, naquilo que calhava, naquilo que era preciso e que a gente cá fazia. Cultivavam milho, batatas, feijões, hortaliças e aquilo que cá havia, nessa altura. O meu pai agarrava nesse tempo. Queria erguer-se cedo para ir para o campo, mais cedo que os outros não dessem conta, porque o trabalho chegava para meia dúzia. Às vezes, até ia descalço para não fazer barulho com o calçado. Ganhava-se pouco. O meu pai, que Deus tem, chegou a andar a ganhar 2 tostões a mossar - contou-me ele. Andava a mossar no chão os caroços duma peneda, que dá a volta lá num bocado. Mossava da peneda, que ia mais alta, e era cultivada. Era para cultivarem melhor. Só lhe pagavam 2 tostões por dia. A minha mãe fazia o comer e ajudava na fazenda. Às vezes, vinha a noute, à meia-noute ali à cozinha tratar das coisas para o outro dia. Já se não tinham com sono e enfadados. Faziam cavadas, também, para centeio.
O avô do lado da minha mãe era Zé Pedro. A minha avó era Maria da Piedade. Eram cá da terra. Ainda comi do comer que eles fizeram e vi-a a trabalhar e tudo. Ia lá para o trabalho fazer o que calhava. A entreter. Do lado do meu sogro, ele era António Francisco, se não há engano. Agora, ela é que não estou assim bem certo do nome. Eles eram daqui, mas já não os conheci.