Nestas encostas aqui por aí fora, cavava-se e semeava-se centeio. E dava bom centeio. Tinha-se que se lavrar a terra.
Nesse tempo havia cá juntas de bois. Os bois é que lavravam bocado a bocado e cada um tem o seu bocado, a sua sorte. Não era à balda. Depois de lavrado semeava-se o milho. Gradava-se. Era com uma grade. Depois algum, a gente acabava por o meter para a terra com um pau. Daí vinha-se a criar. Mas dava muito trabalho. Tinha que se regar até ter espiga até dar grão. Era muito trabalhoso. Isto tudo manual.
A desfolhada, isso era engraçado. A carregá-lo é que nem por isso, mas nas desfolhadas era engraçado porque às vezes juntávamo-nos umas pessoas. Depois aparecia uma espiga daquelas roxas. Aquilo era uma brincadeira. Era aos abraços, aos beijos uns aos outros as raparigas e os rapazes. Aquilo era um fandango. Era assim.
Agora já há uns eléctricos, mas aqui na ribeira havia uns moinhos tocados a água. Aí é que era moído. Naquelas mós, tocadas a água, aí é que se fabricava a farinha. Os moinhos eram de vários. Aquilo era por herdeiros. O que havia em minha casa era de uma data de herdeiros. Havia muita gente a dar dele. Às vezes, até era de uma família. Conforme na altura que os fabricavam. Cada um tinha o seu tempo, dias, ou até horas, às vezes.
Depois uma farinha servia para tratar dos porcos, para temperar as lavagens. A outra era para fazer pão para gente comer. Para cozer broa. Que era como a gente se governava. Era com broa.
Peneirava-se a farinha, porque claro, o milho tem casca. Pegava-se, peneirava-se para apartar a casaca. Depois aquecia-se água ao lume, nas fogueiras, que ainda eram fogueiras, não é como agora. Punha-se a farinha numa gamela específica, de madeira. Punha-se um bocadinho de centeio, porque o milho só, tornava-se muito áspero. Amassava-se com a mão. Fiz isso muita vez. Muita vez a minha mãe não podia. Amassava-se. Depois de amassada aquilo levava um fermentozinho também para levedar. Quando ela começava a estar lêveda começava a abrir a massa. Punha-se com rachazinhas. Quando ela começava com rachas, estava lêveda. Íamos aqui ao mato, ou ao campo cortar umas moiteiras ou umas carquejeiras. Já se tinha acendido o forno. Assim que estava pronto, varria-se o forno. Varriscava-se. Chama-lhe a gente um “rodo” para trazer tudo para a porta do forno. Metia-se no forno de cozer o pão para não ficar lá carvoeiro. O fundo do forno tinha que se limpar bem limpinho com um mato verde para não ficar lá carvão nenhum, se não o fundo da broa vinha com carvão. Varria-se bem varrido e depois tendia-se. Fazia-se broas. Com uma pá metia a broa lá dentro. Depois punha-se-lhe a porta e ia-se vendo se ela se queimava ou não. Tinha que se ir lá à horinha sem se queimar, se não era prejuízo.
O forno era de vários também, às vezes. Por acaso havia em minha casa. Era de umas três pessoas, mas tudo da mesma família. Então estava numa propriedade de um, mas pertencia aos outros todos. Não podiam cozer todos no mesmo dia. Tinha que ser. Nem se cozia todos os dias. Era, às vezes, de oito em oito dias. Um dia cozia um, outro dia cozia outro e assim sucessivamente. Não podiam cozer todos ao mesmo tempo. Havia quem se aproveitasse logo a seguir. Quando cozia o primeiro o outro logo a seguir aproveitava porque custava menos a aquecer o forno. Gastava menos lenha. Isto era oportunidade.