Moinhos era por esses barrocos fora. Levei muito sarrão de milho para moer. Havia cinco seguidos. Na altura que havia água, toda a gente lá ia com o sarrãozito de manhã. Só se via no caminho a passar gente com a farinha para cá e com o milho para lá. À noute iam buscar outro tanto de farinha e levavam outro de milho. Quer dizer, hoje tinha eu direito, amanhã tinha direito os donos dos moinhos. Hoje, por exemplo, era meu, de manhã até à noute. Amanhã era de outro, depois era doutro, e assim iam moer no tempo que tinham cada um. O moinho era da povoação toda. Todos os herdeiros.
Há o moinho, chamam o Figueiral. E era um alambique. Agora é que foi tudo recuperado. Havia uns quatro ou cinco. Eram de proprietários. A gente para lá ir fazer aguardente tinha que pagar um tanto. De cada alambicada, 1 litro ou 2 de aguardente, era para dar ao dono. Um alambique é onde se transforma o cardaço de vinho em aguardente. Tem uma caldeira, em cobre, e tem uma parte por baixo funda. Depois tem uma tampa que se encaixa. Bota-se palha no fundo e depois vai-se pondo o cardaço mais grossinho, que é para não se agarrar no fundo da caldeira. Estando aí pelo, chama a gente colo, antes de chegar ao cimo, é “atampada”. Posto aquela tampa, a tampa tem um tubo que encaixa e esse tubo passa por dentro de um tanque que está sempre com água fria. Depois a gente pões com farinha, centeio, em volta para não sair fora. Depois põe-se-lhe o lume, e ela vai destilando lentamente, lentamente. A aguardente sai depois por esse tubo. Põe-se uma palhetazinha de madeira, uma vasilha a aparar e ela não pode correr muita. Tem que correr pouca. Porque se correr muita estraga-se.
Os lagares já era diferente. Isso já era de outro senhor. A gente mandava para lá a azeitona. Primeiro tínhamos de pagar um tanto para moer. O azeite nos lagares, nessa altura, tiravam 1 litro logo que era para a lenha de estar na caldeira. Para aquecer a água na caldeira. E depois, em cada 10 litros que o proprietário levava, tirava 1 litro para o trabalho de o fazer. Hoje é que é dinheiro. Agora não querem azeite, antigamente era tudo em azeite.
Também andei aí ainda de solteiro, a carregar sacos de azeitona às costas, para os lagares. Não havia estradas para irem carros. Era carros de bois. A gente tinha que levar os sacos até onde os bois iam. Onde não iam tínhamos que andar com os sacos às costas para cima do carro de bois.