Antigamente a Benfeita teve duas fábricas de fazer caixas de fósforos. Depois essas fábricas foram vendidas para Espinho, que é lá para a zona do Porto. Ainda tinha umas pessoas empregadas.
Havia pedreiros. Havia colhereiros a fazer colheres de pau. O Sardal tinha muitos, os Pardieiros tinha muitos, a minha terra também tinha. As Luadas tinha muitos. Hoje já tudo acabou. Já só há um ou dois quase em colheres.
Havia muito mais comércio que agora. Era mercearias, petróleo, bacalhau, tudo. Havia uma mercearia no largo da Benfeita. Havia uma casa de panos. Um senhor, que tinha ovelhas, tosquiava as ovelhas tirava-lhe a lã e depois trocava-se por cobertores.
Nesse tempo, aos domingos, aqui há 50 anos atrás, a Benfeita povoava-se com gente para a missa. Vinham das terras todas. Do Sardal, Pardieiros... Vinha tudo à missa. Depois faziam na Benfeita as suas compras. No Sardal também havia uma tabernita. Nos Pardieiros havia duas. Não havia estradas. Hoje já há estradas por todo lado. Há os padeiros que levam pão, levam mercearias, levam tudo para as terras. Nessa altura vinham ao domingo. Eu ia carregado de sacadas para toda a semana. Era muito diferente de agora.
Onde hoje é o museu tinha lá a taberna. Vendiam várias coisas. Tabaco, vinho, uns petiscozitos, aguardente, anis, cerveja. Dava-se por um copito de vinho 5 tostões. Quem queria beber um copito ia lá. Comia um bolo ou um papo seco. Umas azeitonas que o homem, às vezes, punha em cima do balcão e bebia-se três, quatro copos. Uma sociedade de quatro ou cinco era assim que fazia. Jogavam cartas e assim se entretinham.
Hoje nem tem comparação. Comércio é muito menos. Chegou a haver outra taberna no oiteiro. Nem tem comparação em pessoal, nem em comércio como era antigamente.
Era um tempo de alegria. Havia para aí gente. Por todos os barrocos fora só se ouvia cantar. Hoje nem as corujas se ouvem. Só havia gente a cantar. Andava um a regar no Verão, cantava uma cantiga. Na outra fazenda, andava outra a regar, cantava outra cantiga, e era assim. Hoje nem pássaros se vêem já. Os terrenos era tudo amanhado. Havia quem tivesse juntas de bois. Agora está tudo relva.