A minha mãe era Amabília de Jesus e o meu pai Joaquim Pimenta. O meu pai trabalhava nas fazendas e andava pelas serras, a cortar mato e a fazer essas estradas também. Era com uma picareta a amassar as penedas e a tirar aqueles cascalhos para fora. Já é tudo antigo, eu mal me lembro por ele lá andar mas ele andava pelas serras. A fazer pastagens. Era por conta do Estado que ele fazia isso. A minha mãe trabalhava na agricultura. A tirar estrume, a guardar as cabritas, a cavar terra e a semear as batatas, milho e feijão. Era o que comíamos. Matávamos um porquinho todos os anos, fazíamos o enchido e tínhamos as cabritas para fazer o queijito. A sardinha, quando vinha, era metade para cada um em minha casa. Daquela grande. Ainda me tocou metade. A sardinha vinha de Midões. Lembra-me de lá vir um senhor vender, ainda era eu nova. Vinham de longe. Traziam-na numa carrinha. E não havia estrada, só ao cimo da Relva Velha, aí é que ficava a estrada e não havia mais estradas, a gente queria chamar um médico e não vinham. E as professoras vinham ao local ver a povoação, voltavam para trás e iam-se embora e a gente ficava sem escola.