Sempre gostei da minha terra, Porto Castanheiro, porque houve sempre muita gente, mesmo agora há muita gente. Havia muita mocidade. Depois casei, fui embora, e vim para a Mourísia. A Mourísia é mais alegre, a terra até é mais alegre, porque na minha terra não se vê nada. E aqui ainda se vê o Sobral Magro, o Sobral Gordo, e a minha terra é numa cova. Não se vê nadinha. Mas primeiro nas aldeias não havia luz. Eram uns candeeiros e as lareiras. Não havia luz, era uns candeeirinhos pequeninos, umas lanternas. Ainda tenho um candeeiro de chaminé também com petróleo. Íamos para a casa das vizinhas à noite, passar um bocadinho. Chamam aquilo o serão, fazer renda. Era com aqueles candeeirinhos que a gente fazia a renda.
A água íamos às fontes. Não havia água em casa. Nem para tomar banho. Era numa bacia. Íamos à fonte buscar os cântarinhos de água à cabeça.
Não havia fogões. Cozinhar era à lareira numas panelas de ferro e de barro. Até cozinhavam para os porquinhos. Cozinhavam numa panela grande de ferro e daí é que ia o comer para eles. Para assar alguma coisinha era no forno.