Antigamente, quando eu era mais nova havia as bruxas. Havia muita bruxa. Eram mulheres mas depois diz que se transformavam de borboletas e atacavam rapazes. Na minha terra, uma vez uma, que eles conheciam mas não podiam dizer quem era, chegou a enfiar um rapaz num cortiço das abelhas. Um rapaz que estava à noite na cama. Elas foram lá ter com ele e meteram-no no cortiço. Diziam que as bruxas atacavam as pessoas.
E os lobisomens a gente nunca viu mas ouvir, ouvia. Eu mais a minha irmã estávamos no quarto, tínhamo-nos deitado, e a minha casa tinha um quelho da serra para baixo, um carreiro, e eu estava mais a minha irmã na cama, e ouvíramos aquele tropelo de um cavalo. Ouvíramos, pelo quelho para baixo. E depois diz a minha irmã assim:
-“Olha o que vai aí!”
Passou, parecia-me um cavalo. Porque dizem que se lhes dá o cheiro do cavalo, fazem-se em cavalo. Eram homens que se transformavam em bichos. Se lhes desse o cheiro de uma cabra, era uma cabra, se desse o cheiro de um gatinho era um gato. Diziam, eu não sei. Diziam que a mãe que tivesse sete filhos e não tivesse nenhuma rapariga, que um era lobisomem. Diziam os antigos, a gente não sabe. Aquilo no fim transformavam-se outra vez em homens. Não faziam mal às pessoas. Aquilo era só de noite, estava na cama e ouvia-se aqueles tropelos.