Antigamente, a gente namorava em casa, os nossos pais estavam sempre a guardar a gente. Namorávamos na sala, à janela e os nossos pais estavam na cozinha, a ver se a gente dava um beijo ou se abraçava. Não é como agora. Estávamos guardadas. Eu namorar, assim namorar foi pouco tempo porque o meu marido estava na França. Vinha cá só de ano a ano. Namorávamos quando ele vinha, namorávamos. Tive muitos rapazes, vários, mas era por cartas. O meu marido é que era quando ele cá vinha.
Por carta, primeiro eles conheciam a gente, e depois escreviam. Sabiam o nosso nome, a direcção da terra e tudo e depois escreviam a carta a pedir namoro. Se a gente aceitava, escrevia. Ainda tive muitos. Eles iam para o baile, a Porto Castanheiro. A gente era muita mocidade, fazíamos aqueles grandes bailes. Aqueles antigos tocavam muito bem. Depois vinha muita gente, muitos rapazes de fora, muita mocidade. Concertinas e guitarras. Fazíamos uns grandes bailes. Eles conheciam a gente e depois escreviam. Eles falavam também lá no baile. Escreviam a pedir em namoro, que gostava muito de mim, quando me viu, quando me conheceu. Se aceitava o namoro, a gente respondia. Se agradasse o rapaz escrevíamos, se não agradasse, não escrevíamos.
O meu marido conheci-o porque eu namorei com o irmão dele. E depois eu fiz uma partida, que não havia de fazer, e ele deixou-me. Eu não gostava muito dele, e ele combinou que ia à minha terra, se eu lá estava, eu disse que sim, depois fui-me embora. Fui para Fajão com uma saca de mantas. Antigamente, havia uns teares que faziam mantas de fitas. E um senhor vendia essas mantas e ele falou para eu levar lá uma saca de mantas e eu fui a Fajão. Fôramos a pé. E depois ele foi lá, não me encontrou e depois deixou-me. Depois o meu marido estava em França, soube que o irmão me tinha deixado e depois escreveu-me uma carta a pedir-me em namoro. Eu não era para escrever mas depois começaram a dizer:
- “Ai escreve, escreve!”
Eu lá escrevi e assim começou o namoro e casei com ele.