Voltei para Portugal, o meu filho já tinha vindo para a escola. Aquilo deu falência e nós estávamos numa aldeiazita. Não tinha carro, não tinha nada para ir trabalhar para outros lados, resolvêramos vir para a Mourísia. Andei a trabalhar nestas serras, a plantar pinhal, pinheiros pequeninos. A pé. Com aquelas caixinhas dos pinheiros à cabeça, a plantá-los. Depois andei na Mata da Margaraça, andei dois anos e meio também a trabalhar. A pé também. Daqui para diante, para a Relva Velha. Uma senhora da Moura é que me levava lá de carro. Ia a pé, ia e vinha. Ela deixava-me mais adiante. Eu mais o meu marido.
Para plantar os pinheiros fazíamos umas covazinhas com um enxadão, púnhamos o pinheirinho na cova e depois tapávamos. Vinham numas caixinhas dentro de umas caixas grandes. E a gente trazia aquilo à cabeça para plantar. Era um senhor que trazia numa carrinha. Quando andávamos na floresta ganhava 14 escudos, ou 12, por dia, sem descontos nenhuns. Comíamos ao meio-dia. Tínhamos o almoço às nove horas mas era tudo a pé. Ainda no meu tempo de solteira era tudo a pé. Com umas tamanquitas. Ainda saímos de casa com as estrelas. Com aqueles cestitos de comer à cabeça, mas éramos muitas. Não era só eu. E íamos para lá longe. O comer fazíamos em casa e depois lá aquecíamos. Levávamos o comer num tachinho, fazíamos aquelas fogueiras grandes e depois aquecíamos ali a comida. Era arroz, feijão, sopa e carne. Eram uns cestinhos ainda grandes e andávamos lá em cima na serra. Foi de solteira o que estava agora a contar mas depois de casada também andei na serra, na Serra de Gouveia, ao pé da Serra da Estrela. Andáramos por cima de Gouveia, na serra, a plantar pinhal. Íamos de carro, com o encarregado. Todos os dias, menos aos domingos.
Na Mata da Margaraça trabalhei dois anos e meio mais o meu marido. Primeiro fui para cortar as mimosas. Cortáramos as mimosas e depois aquela lenhinha das mimosas púnhamos à beira das estradas e andáramos na Fraga da Pena, aquilo ali mete medo. Andei por cima num pinhal. Chorei lá tanto. Já não conseguia. Até cheguei a andar de joelhos a cortar mato. Havia aquelas fragas e a gente por cima, via aquilo por baixo. Metia uma coisa na cabeça que já não conseguia. Tinha muito medo das alturas. Aí ganhava ao mês. 200 e tal euros, 300, era conforme. Mulheres e homens igual. Íamos para a Moura para apanhar o carro. Saíamos ainda de noite, muitas vezes, até íamos na carreira que vinham buscar os alunos da escola para Côja. Vêm buscar aos Leões, a gente apanhava a carreira para a Moura, de manhã. Depois vinha a pé de lá para cá, agarrada a um pau, e vínhamos até por cima, pela estrada de cima. Daqui para Moura é meia hora a pé. Uma vez, cheguei ao cimo da Relva Velha, porque eu tenho artroses nos joelhos, e disse assim para o meu marido:
- Eu já não passo daqui. Manda vir um carro porque eu já não posso caminhar.
Todos os dias a pé da Mata para a Mourísia e daqui para lá, e depois passou um senhor do Tojo e depois é que me trouxe aqui em cima.
Também trabalho no campo. Agora o meu marido é que faz mais que eu não posso. A gente cava terra com um ancinho, faz estrume e tem as cabritas. Pomos couves, batatas, cebolas, milho, feijão.