“Não havia mais nada para ninguém”

Cultivávamos tudo. Milho, batata, cebolas. De tudo, para gastos de casa. O milho era para nós comermos. Antigamente era só broa. Cozia-se fornadas e fornadas. Gastava-se muitos cereais, muito milho. Cultivava-se centeio. As encostas todas davam centeio. Então o centeio com o milho, fazíamos a broa. Depois criávamos os porcos, que era o sustento da casa, o conduto. Tínhamos as batatas, o feijão, era assim o nosso sustento. Não tínhamos mais nada. Não havia mais nada para ninguém.

Já fiz muita vez queijo na minha casa. Quando estava em casa dos meus pais não fazia. Porque não era preciso. A minha mãe fazia. Mas em minha casa já fiz. Já tive ovelhas, já tive cabras. Então tinha leite, fazia queijo. De manhã íamos tratar dos animais, tirávamos leite, metíamos-lhes a comida. Quando era ao meio-dia tornávamos a tirar porque diziam que os animais não se estragavam tanto e que davam mais leite. Se a gente tirasse mais vezes, davam mais quantidade e não se estragavam.

Depois chegava-se a casa, púnhamos o leite a amornar. Se ele vinha anda morno fazia-se logo. Punha-se a coalhar. Portanto, metia-se-lhe o cardo. Há quem faça com o coalho, mas eu normalmente era sempre com cardo que é a flor de uma planta que temos cá na Mourísia. Então metia-se-lhe o cardo, mexia-se e punha-se a coalhar. No fim de estar a coalhada feita, punha-se num acincho e calcava-se, espremia-se. No final punha-se-lhe o sal e deixava-se. Punha-se na queijeira a secar. Quando era preciso comia-se fresco. Se não era preciso, púnhamos a secar, guardava-se. Podia-se guardar até um ano e ia-se comendo seco.