Na Mourísia nasci, criei-me, casei-me e aqui continuo. Eu se saísse daqui para fora, que dissessem assim:
- “Vais morar para um sítio qualquer...”
Parece-me de mim que eu não conseguia. Eu só desejei sair da Mourísia quando as minhas filhas andavam a estudar em Côja, em Arganil. No Verão tudo bem, mas quando era de Inverno, no tempo da neve... Muitas vezes, de manhã não nevava, mas depois delas irem começava a nevar. À noite quando elas vinham, era uma nevada. Tudo tapado de neve. Não vinha cá a carreira, elas sozinhas não vinham. A camioneta ainda vinha à Moura. Uma vez, tínhamos carro, levamos até lá ao alto, depois de lá para baixo fomos a pé. Lá fomos à Moura buscá-las, para cá a pé. Chegámos lá acima a carrinha estava tapada de neve. De lá para baixo já viemos mais ou menos, mas depois a partir daí houve muitas vezes a nevar. Outras vezes perdiam a camioneta. Tínhamos que as ir levar à camioneta já quase a Côja. Era assim. Uns sacrifícios com elas. Depois elas saíam às sete da manhã, chegavam a casa às sete da noite. Elas chegavam cansadas. Já não tinham tempo para estudar. Vinham cansadas adormeciam logo. Então quando traziam os trabalhos com força para fazer, eu tinha um dó delas. Então só desejava ir lá para baixo, para o pé lá das escolas para elas estarem ao pé da escola, para facilitar a elas. E quando era para ir ao médico e isso, assim é que eu desejava. A partir daí a minha alegria está aqui na Mourísia. É aqui e não me apetece sair daqui. Não gosto de sair daqui.