Eu ainda vendi sardinha. Vinha um senhor à Mourísia trazer e nós íamos vender. Praticamente também andávamos na escola. Com 13, 14, 15 anos, para aí. A minha mãe é que tomou o negócio, à sociedade com mais outra senhora. Então íamos nós. Eu, os meus irmãos e os filhos dessa senhora com quem a minha mãe tinha tomado a sociedade. Nós íamos com a caixa à cabeça por aí. Eu ia ao Sobral Gordo. Atravessávamos a encosta para o outro lado, íamos ao Soito da Ruiva. Um dia ficámos lá no Soito da Ruiva, outro dia fôramos ao Tojo. É uma terra a seguir. Depois é que viemos para a Mourísia. E assim andávamos. Eu andava pelas portas. Antigamente a gente não chamava. O nosso chamamento era bater às portas.
Antigamente era tudo ao quilo. Também se vendia à dúzia. Porque antigamente, quando a sardinha era grande, regulava uma dúzia quase pelo quilo. Quando eram aqueles chicharros grandes, os carapaus grandes, normalmente vendíamos ao par. 25 tostões cada dois. Também se vendia ao quilo, mas normalmente era assim. A gente vendia a olho, não levávamos balança, para não andarmos com aquele peso ainda em cima das caixas do peixe. Tínhamos que trazer tudo à cabeça. Para não andarmos com mais peso era assim.
Antigamente as sardinhas não vinham com gelo. Era tudo com sal. Às vezes sobravam, porque havia vezes que a gente não vendia o peixe todo, o que é que a gente fazíamos? Lavávamos o peixe e salgávamo-lo bem e púnhamo-lo a secar. Espetávamos o arame nos olhos do peixe. Fazíamos tipo uma corda e púnhamos a secar por cima do fogão. Depois comíamos aquele peixe seco. Aquilo era bom.