Depois, a nossa vida era pela Mourísia. Nunca saí daqui. Foi sempre na agricultura com os meus pais.
Quando nos casámos o meu marido arranjou a oficina de carpintaria. Como ele esteve fora e depois voltou, quando nos casámos arranjou a oficina e começou a trabalhar na oficina. Mais tarde entendeu que havia de arranjar empregados, mas só engraçou com a empregada que tinha em casa. Como é que se diz: é empregada para todo o serviço. Desde trabalhar com as máquinas, a trabalhar à mão. De tudo um pouco. Eu gosto. Eu sou aventureira. Só me custou no aspecto de ter que estar ali fechada. E depois eu tinha que fazer o trabalho do campo, e sabia o que tinha lá para fazer. Eu gostava de estar ali, mas a minha maior alegria, porque foi onde eu nasci e foi praticamente onde eu comecei a trabalhar, eu gostava de me ver era na fazenda, no campo. A gente na fazenda, anda, quando está bom é mais saudável, alegre. Apanhamos o ar. Enquanto que na oficina temos que estar fechados. Era a coisa que me custava mais era isso. Tanto que eu estava ali mas a minha ideia estava lá no campo. De vez em quando, safava-me. Assim que me parecia, deixava as coisinhas que estava a fazer.
Ele queria que eu estivesse lá sempre. Só que eu estava ali, mas eu sentia-me bem era lá fora, na rua. Porque foi onde eu fui criada.
Eu tinha uma grande cabrada. Primeiro tinha mais mas depois acabei. No final tinha apenas duas cabras e duas cabritinhas mais pequenas. Eram boas e tive pena de acabar com elas por causa da oficina. De me dedicar à oficina para ajudar o meu marido. Ele precisava ali de mim. Porque ele estava sozinho e eu, não era rentável andar ali só com as cabras. Então tive que optar. Era na oficina que eu me governava, não era com as cabras. Apesar das cabras, para mim, serem a minha alegria. Só que eu não conseguia vencer, tratar das cabras e trabalhar na oficina.
Hoje continuo na agricultura e nos intervalos, nas horas vagas, sou ajudante de carpinteiro.