Já ninguém mata porco. Agora acho que já ninguém faz isso. As pessoas começam a estar mais velhas e como já têm mais capacidade financeira, compram e já não estão para estar a tratar um porco. Dá muito trabalho.
A matança era cedo. As pessoas levantavam-se cedo, comiam, e depois ia-se agarrar o porco. Fechava-se a porta, para ele não sair, até o agarrar. Tendo-o agarrado, abria-se a porta, vinha-se, punha-se em cima de um banco. Amarrava-se com uma corda à frente na cabeça, para ele não se levantar, e as outras pessoas de trás a segurar nas patas até lhe espetar a faca. Quando estava a acabar aquilo, às vezes, dava cada patada! Naquele dia pendurava-se, abriam-no. Fazia-se logo uns torresmos para se comer esse dia. À noite depois de arrefecer desmanchava-se, deixava-se estar a arrefecer e depois ao outro dia é que se salgava. Punha-se na salgadeira tudo com sal para se conservar durante o ano.
Matava-se sempre um porco e os presuntos eram para vender, dizia o meu pai que era a semente para ir comprar o outro para o outro ano. Às vezes, até os lombos também se vendiam naquela altura. Salgava-se numa salgadeira com sal e depois ia-se comendo ao longo do ano. As costeletas do porco eram postas numa panela em azeite e depois era para se comer quando era o dia da malha do centeio e quando era na sementeira que andavam os bois a lavrar. Só naqueles dias especiais é que tinham uma comida mais melhorada. Durante o resto do ano era aquilo o que havia. Às vezes, era batatas com cebola, outras vezes era nabos com batatas, outras vezes era uma sardinhita, às vezes, dividida por dois, quando eram assim aquelas maiorzitas.
- “Às vezes isto era batatas com couves outras vezes era couves com batatas.”
A banha do porco era frita e depois comia-se. Ficavam as pás que era a parte dianteira do porco e as bandas. Depois chegava a uma determinada altura do ano e ela já estava amarela até e tudo. Era muito alta e era branca. Não era como agora que é quase tudo fêvera. Não era todos os dias, era quando calhava. As outras vezes era grelos com batatas outras vezes uma cebolazita.
Naquela altura era o que havia. As pessoas tinham que viver. Os rendimentos eram poucos e compreendia-se que era assim. E se calhar até se comia melhor do que agora, que diz que a gente come bem e se calhar ainda estamos a fazer pior. Gorduras e comidas em excesso que estamos a comer que não é necessário e que só nos estão a fazer mal. Por razões económicas estávamos a fazer uma alimentação que se calhar era mais saudável do que agora.