Tenho a quarta classe. Fiz depois em adulto. Pensei em tirar a carta de condução, tive que fazer a quarta classe. Fui a Arganil a uma senhora, uma explicadora. Fui lá cinco vezes, das três às cinco. Depois fui fazer o exame da quarta classe numa escola lá em Arganil que hoje está fechada. Éramos 35 a fazer o exame de adultos. Todos para fazer a quarta classe. Eu tinha saído da escola já há 12 anos. Já estava casado, já tinha feito 22 anos. Não sei se os outros sabiam, se não sabiam. A professora viu-me mais esperto ao fazer os problemas e as contas. Alguns estavam lá a fazer as contas e não sabiam. Eu até lhes passei assim um papelito com as contas pela carteira e o professor, o chefe topou e fez-me sinal. Depois eram duas professoras e um professor. Duas já morreram, o professor ainda é vivo.
Havia aqueles quadros na parede, de pedra, onde a gente escrevia com giz. Depois a professora, começou-me a fazer umas perguntas e mandou-me ao quadro fazer um problema com umas quatro ou cinco contas. Ainda me lembra, diz ela assim:
- “Você vai assim a uma fábrica, compra um corte para mandar fazer um fato. O corte custou-lhe tanto, o alfaiate levou tanto, as linhas custaram tanto, os botões custaram tanto... ”
E eu para o quadro, truca, truca, truca... E os outros 30 e tal todos a olharem para mim. Bateu tudo certo. Tinha mais cabeça que tenho hoje. Esse professor, que era professor lá da instrução primária, disse-me que eu podia fazer a quarta classe ao pé dos alunos de instrução primária que não ficava mal.
Correu bem, graças a Deus. Tenho lá o diploma. Depois então tirei a carta.