A minha mulher chamava-se Deolinda Augusta da Costa. Faz um ano no dia 15 de Fevereiro que ela faleceu.
O meu casamento foi no tempo da crise. Tinha 21 anos. Nem se encontrava mercearia. Era difícil fazer a festa. Íamos vestidos com uma roupa boa, com um fato bom mas, naquele tempo, havia poucos convidados, porque não havia mercearia. Para me casar, gastei um ano de dinheiro.
Tive que a mandar emancipar. A minha sogra só tinha aquela rapariga. O homem era de uma terrinha aqui de Sobral Gordo, mas foi para Lisboa. Ele queria que a minha sogra, que Deus tem, fosse para Lisboa. Mas ela tinha aí um sobrinho que lhe dizia:
- “Olhe que você vai para Lisboa e vai ver que ele tem lá uma amiga. Ele anda lá metido com a amiga. Depois, você tem que vir outra vez para cá.”
Mais assim, mais assado. Ela foi na conversa dele, não foi. Pronto, ele nunca mais cá voltou. A última vez que ele cá veio tinha a minha mulher, nesse tempo, 4 anos. Nunca mais cá voltou. Eu nem nunca o vi. Depois, tive que a mandar emancipar, porque ela ainda não tinha a idade quando casei. Não se podia casar sem ter 21 anos. E eu tinha de ter também 21 ou 22. Já não me lembro. Julgo que eram 22 anos. Gastei muito dinheiro. Chamei lá seis testemunhas e fomos pôr que o pai era desaparecido.
Casei-me e fui viver com a minha mulher. Só vim para a Mourísia quando me casei. Só que aquele primeiro ano fui tropa. Estava em Coimbra um que era chefe da polícia. E eu pedi para ver se conseguia-me livrar e tal. Disseram-me que aquilo estava mau e para esperar para o outro ano se estivesse melhor. Já lá tinha andado três meses. Depois, fui chamado outra vez, tive que lá ir andar à mesma. Mais meio ano. Lá fui livrar o número. A minha mulher ficou na companhia da mãe. Senão, nunca me casava antes de ir para a tropa. Depois, a mãe dela esteve sempre na minha companhia até morrer. Só tinha aquela filha.