Fui para França quando fiz a casa. Tinha lá já um irmão e ele mandou-me a carta de chamada. Mas os patrões de lá não sabiam bem como é que se fazia. Então, fui ao pé das Minas a um gajo que lá havia, que fazia as cartas de chamada. Mas era tudo com ligação lá àquilo. Era preciso vir lá de França, lá dos patrões. Tive que dar 1000 escudos naquele tempo. Depois, fui para a França trabalhar. Ainda não tinha 45 anos. Estive lá desde 1966 até 1980.
Na França não é o clima como aqui. É um clima mais abafado, escuro, nunca se vê o sol tão descobertinho, tão puro como aqui. Os franceses falavam francês e a gente tinha que aprender também o nosso francês. Tinha que se aprender. Mas aprendi pouco e agora já me esqueceu de muita coisa.
Trabalhava numa cerâmica de telha. Andei a desenfornar telha. E, quando era no Verão, o calor ali? Aquilo tanto era no Verão como era de Inverno. O calor dentro dos fornos tanto era de Verão como era de Inverno. Era a mesma coisa. Então, já se sabe, era difícil. Tanto trabalho tem as suas coisas.
Todos os anos cá vinha à aldeia. Só a primeira vez é que levei dois anos sem cá vir. E depois vim a Portugal e levei outros dois anos sem cá vir. Levei uma filha comigo. Depois voltei cá, levei mais uma filha comigo. Ao fim de cinco anos, levei mais um filho comigo a salto. Outro foi comigo. Cá para o resto, só cá estava uma filha ao pé da mãe. A minha mulher foi mais a filha que cá tinha numa carta de chamada. Ia-se de comboio. Saía daqui de manhã, por exemplo, e chegava lá ao outro dia a quase de manhã. Onde eu estava são à volta de 2500 quilómetros. Entrava a gente, em Santa Comba, para o comboio e andava. Depois de lá estar, tirei a carta e comprei um carro. Ainda hoje tenho ali a carta francesa e a portuguesa.
Voltei para a minha terra, porque também andava doente e já cá tinha um filho, que ainda aí está. E na França tenho lá quatro filhos. Tinha três raparigas, estão lá todas três. E tenho lá um rapaz. Lá estão ainda.