Quando eu me casei ainda cá não havia luz. Não havia luz na rua como agora. Tinham que levar um lampião. Há-de haver uns 28, 29 anos que cá está a luz na Mourísia. Eu, da minha casa de cima, para vir à loja, vinha sem luz nenhuma. Se me acabasse o vinho à noute, vinha com uns garrafões de litro empalhados, em palha, vinha de cima, sem ver os degraus. Descia abaixo, metia a chave na porta, abria a porta. Ia ao pipo de vinho. Ia dar com a mão na torneira. Engatava o garrafão por baixo, tirava o vinho sem luz nenhuma e sem botar o vinho fora. A gente já estava calhado.
Havia uns candeeiros aquilo era a petróleo. De certo tínhamos dois candeeiros ou três. Tínhamos um candeeiro para alumiar na cozinha. A gente, para ir para outra divisão, pegava no cano do candeeiro, dava-lhe o vento, apagava-se. Lá voltava atrás para vir acender outra vez. As minhas filhas se cá estivessem hoje sabiam. Uma delas, acho que é a mais velha, agarrava, punha o candeeiro à cabeça. Levava-o à cabeça, apagava, lá voltava ela outra vez com o candeeiro para vir acender o lume. A gente, às vezes, tinha que lhe dar um bocado mais de, chama a gente, a torcida que é para dar mais chama. Senão depois o lume apagava-se. Com a deslocação de ar apagava-se. O candeeiro a petróleo era redondo, pequeno. Tinha uma copa por baixo onde ele se segurava. Por cima tinha outra base donde tinha o petróleo. Depois ali tinha então uma torcida, para cima. Tinha em cima um bucal. A gente enroscava aquilo, botava-lhe cheio de petróleo, depois enroscava-o. Tinha um registo, podiam dar mais, ou menos luz. Acabando o petróleo tinha que pôr mais para dentro.