A fazenda primeiro era lavrada com bois. Havia juntas de bois. A gente a terra esvairava-a, no fundo. Carregava-se, a terra às costas, com uma cesta. Depois começava a lavrar no fundo. Andava o pessoal a meter o estrume no rego. Voltava para cá e para lá, toca a lavrar. Semeava-se o renovo, o milho. Mais tarde, os bois acabaram, foi com burros. Lavrava-se com os burros. Depois acabaram os burros, acabaram os bois, acabaram as vacas, como se costuma dizer, e acabaram as pessoas. Hoje é só dois ou três indivíduos. Meia dúzia deles que cultivam aí qualquer coisa, pouco. São os quatro novos que aqui estamos. Quatro casais mais novos. Cultivam alguma coisa para se ir entretendo. A gente quando vem do trabalho venho tratar das videiras e tratar do renovo, da fazenda. Curar batatas e feijão e o que calha. Ajudar a mulher porque a mulher não pode fazer tudo. Comparando agora com a fazenda que havia aqui há 30 anos, 40, isto era tudo cultivado.
Entretanto quando era aí em Abril e Maio estava tudo terreno negro, de bocados já de milho graúdo para se poder ralar, para depois desbastar, para se criar. O terreno que cá há era rico, era de milho. Milho daqui, centeio nas outras encostas. Havia aí casas de família que eram sete irmãos e uma avó e dois pais. Eram dez pessoas. Coziam num forno ao pé da capela, que já não existe, coziam 30 broas de cada vez. Eram 3 alqueires de farinha, num moinho. Coziam na segunda-feira e no sábado tinham de tornar a cozer. Cada um fazia a sua parte.
Cortavam as giestas no Inverno. Cavavam aquilo com um enxadão, abriam cortes. No fim de Julho, princípio de Agosto, botavam o fogo aquilo. Queimavam aquilo. Depois semeavam o centeio. Havia indivíduos que tinham aí aos 80, 90 alqueires de centeio e até mais. Outros menos, conforme o que tinham no terreno. Não havia aí terra nenhuma nas redondezas como, em questão de milho e centeio, era aqui na Mourísia. Agora está tudo silvado. Está tudo destruído pelos fogos.