Fui para a escola aos 7 anos. Chegou aqui haver escola na Mourísia, por um tempo. Chegámos a ser, só esta povoação, 24 alunos. Numa casa que não era escola, era de um indivíduo, que não estava cá, estava para Lisboa. Tinha um rés-do-chão que estava solhado. Decidiu emprestá-la. Vieram cadeiras para se sentarem e ter a parte da frente para escrever. Eram a par. Chegou a dar até 25 e 26 alunos. Depois iam fazendo o primeiro, segundo, terceira, quarta classe. Faziam a quarta classe terminava. Não havia mais classe nenhuma. Naquele tempo, não é como hoje. Iam entrando outros, mas depois acabou.
As professoras vinham para cá para a Mourísia. Cá dormiam, cá ficavam, na mesma casa, por cima. Aturada aí pelo povo, para tratar bem os alunos. Uma dava-lhe isto, outro dava-lhe aquilo. E pronto, viviam. Ainda esteve a escola parece que mais de uma dúzia de anos. Depois, às vezes, falhavam. Não vinham. Tínhamos que ir a caminho de Sobral Gordo. Por aí abaixo, meia hora a pé. Às vezes, debaixo de chuva e vento por aí abaixo. Com uma capucha por os ombros. Tem um carapuço por cima e depois tem uma coisa que embrulha a gente todo. Com o chapéu que, às vezes, o vento escavacava, rebentava com os chapéus. Com duas sardinhas dentro de um saco, duas fatias de broa. Era o comer ao meio-dia. Mas andei lá pouco, pouco. Às vezes, ia lá andar um mês, ou dois, ou três.
A primeira professora esteve cá dois anos. Era dona Lurdes. Uma jóia de professora. A segunda, chamava-se Carolina. A terceira classe foi uma que se chamava Palmira e era daqui de perto. E da quarta classe era uma não sei de donde. Essa já nem me lembra o nome dela. Portanto, tive essas professoras todas. Havia aí uma que se a gente fazia alguma coisa mal, ela para bater, pegava lá numa régua. Mas ela levava os alunos, não ficava lá nenhum para trás. Não é com hoje os que não passam, ficam. Eles não se importam. Naquele tempo, era assim que faziam. Preocupavam-se. Os alunos hoje, alguns não aprendem bem, mas hoje há professores que também não se esforçam pelos alunos.