Com 16 anos fui para uma estrada de Soito da Ruiva. A rasgar estrada à mão. Com 16 anos ganhava 16 escudos. Depois no ano a seguir fui para uma floresta. Perto da terra da minha mulher, que é no Carvalhal dos Parrozelos. Andámos lá uma época, um Inverno a mondar, a limpar árvores, cortar mato. Às vezes, debaixo de chuva. Depois de uma hora, chegava aqui com a roupa toda molhada. Era uma hora de caminho daqui para lá. Depois no Outono a seguir abriu nesta zona outro guarda. Lá íamos cortar mato. Mondar aqueles pinheiros, destruir tudo. Começámos a ganhar 20 escudos. Eu andava lá com as raparigas. Comecei nos 20, depois diz assim o guarda:
- “Amanhã vais ter à estrada de Soito da Ruiva. Não vens para aqui. És mal empregado andares aqui ao pé das raparigas.”
E eu pronto, fui para onde ele me mandou. Íamos a pé. Havia mais daqui da Mourísia que iam também para lá e eu ia com eles. Isso fazia bem a pé, por aí além, fui para lá para a estrada de Soito da Ruiva. Depois ele a primeira semana, acho eu já tinha uns 18 anos naquela altura, já trabalhava bem, diz ele:
- “Bem! Esta semana pago-te a 20 escudos. Para a quinzena que vem, se te manteres como estás, não te pagas a 20. Pago-te a 25. É o preço de um homem. É o que tu vales. Pago-te o preço de um homem.”
Era 25 escudos que se ganhava naquele tempo. Lá uma picareta nas unhas, uma marreta, um guilho, a rasgar as estradas. Agora é a máquina. Naquele tempo era à mão que se fazia aquele trabalho todo. 25 escudos de um momento para o outro. Nunca mais andei para trás. Sempre a ganhar. Até aos meus 18, 19 anos.