O meu pai é António de Moura Pereira e a minha mãe chamava-se Deolinda Augusta Costa. Já faleceu.
O meu pai trabalhou nas Minas desde a idade dos 13 anos. Fez 14 anos na Mina. Carregava aço lá para dentro, para os marteleiros. Mais tarde, quando se casou, aprendeu a arte de compor louças. Ainda está ali uma composta por mim, não por ele. Bem, mas ele é que me ensinou a fazer aquele trabalho. Andámos aí de terra em terra com chapas de zinco às costas a trabalhar de “fulineiro”, a remendar panelas de folha. Ainda andámos pelo Piódão, Cerdeira, Gondufo, Chãs d'Égua, Moinhos, Casas Figueiras, aquelas terras. Corremos aquelas terras. Íamos até à Vide, íamos para o lado das Meãs, das Meãs para o lado de Unhais-o-Velho. Aqui para estes lados, não. Só quando era no tempo das férias da escola, é que o meu pai ia para aqueles lados para eu lhe ajudar a levar o material. Era com uma roda de amolador, que tocam a pedal com um pé. Aquilo é um quadrado e tem uma roda como as das carroças de raios. Tem uma caixa vermelha por cima com uma bigorna pequenina e tesouras. O meu pai ainda tinha uma, mas agora já nem sei onde é que isso pára. Quando andava lá pelo mundo e fazia peneiras, ia com a roda. Fazia peneiras, mas também fazia ratoeiras para agarrar ratos e pássaros. Andou muito. Foi daqui ao Porto com a roda. E há 50 e tal anos.
O meu pai andava na arte e a minha mãe trabalhava na agricultura. Éramos sete filhos, entre quatro rapazes e três raparigas.