Dia-de-Todos-os-Santos fazia-se e faz-se um magusto, mas já não é como antigamente. A gente é pouca, também. Ao princípio, antes de eu ir para França, quando eu era solteiro, havia muitos rapazitos na Moura. Lá há um sítio que é o recinto da escola. Agora, já não é tão grande mas, naquele tempo, antes de fazerem a escola nova de baixo, havia lá um recinto grande. Ora, os rapazitos todos levavam um saquito de castanhas. O padre já tinha sempre uma loja cheia de caruma. Punha-se uma camada de caruma, uma camada de castanhas, uma camada de caruma, uma camada de castanhas e botava-se-lhe o lume. Ia-se mexendo com um “fragoeiro”. Os homens levavam garrafões de vinho e toda a gente comia e bebia.
Mas, na terra do meu pai, nas Meãs, faz-se o bodo. Foi uma altura que passou aí um cão derrancado. Bem, um cão malinado, um cão derrancado, um cão feroz que, se mordesse a uma pessoa, podia a pessoa apanhar certas coisas. Depois, prometeram a Mártir São Sebastião fazerem aquela festa se ele não desse prejuízo a ninguém. O cão passou por aqui, não deu prejuízo a ninguém nem nada. Então, fazem esse bodo das terras da freguesia. Iam com um carro de bois, levavam castanhas, figos, vinho e aguardente. Aquilo era uma vaidade. Era ver quem que apresentava as coisas melhores a nível das terras da freguesia. Depois, contavam as casas que havia na freguesia e davam um papo-seco a cada pessoa. Se eu o pusesse numa gaveta, ao outro ano estava tal e qual como quando trazia. Quando era solteiro e quando andava a trabalhar, ia lá todos os anos. Havia anos que lá ficava dois dias atafulhado na neve.