Também trabalhei num lagar de azeite. Eu andava a trabalhar nas Minas da Panasqueira. Uma irmã minha esteve a servir numa senhora na Benfeita, a fazer vida doméstica. E, quando esteve lá, nós fomos fazer um acerto para um palheiro ou para uma casa ou o que é que foi. E depois o homem para quem trabalhámos, às vezes, falava-nos. Era para carregar cepas para o lagar, para quando se faz o azeite. Telefonava-me e perguntava-me se estava disponível para lá ir ter, para fazer o que era preciso.
Aquilo era assim: a azeitona ia para o pio. Ia com as galgas, duas pedras como as dos moinhos. As pedras iam num ferro e a água é que tocava. A água tem uma roda grande, uma roda andadeira como a das moendas. E aquela roda é que tocava as duas galgas para elas esmagarem a azeitona. Depois, vinha esmagada para a prensa. Tinha uma prensa e umas seiras. Enfiava-se para ali para dentro com uns baldes. Punha-se umas em cima das outras. Depois, botava-se água quente em volta. No fim de estar meia espremida, tornava-se a braço! Não era nada a hidráulica. Era tudo a braço. Às vezes, quando uma pessoa vai moer a azeitona, faziam, tibornadas com algum bacalhau, batatas, couves. No fim de estar meias cozidas, tirava-se-lhe a água, botava-se-lhe azeite. Eram acabadas de cozer em azeite.
Éramos três no lagar. O mestre, esse não saía de lá, que esse tinha que medir e preparar o azeite. O outro rapaz era o ajudante. E eu era o que botava a lenha na fornalha. Era o lenheiro, como eles chamavam. Ele só me dizia:
- “Olhe, é para caldear às tantas horas.”
E eu tinha que ter a caldeira a ferver. Há umas que é de torneira. E outras são ateadas com um pau. Chamavam àquilo uma aguadeira. “Bumba”! Bota para dentro! Dois baldes para cada seira. Mas tem que estar a caldeira bem quente para se escaldar o azeite. E o azeite fica bom. Ficava melhor que este agora com coisas separadoras. É mais batido e mais bem escaldado e tinha outro gosto.
Quando era a espremer, espremia-se ali bem espremido. Depois, “desenseirava-se” e punha-se outro moinho logo a seguir. Fazíamos dentro de dia e noite cinco moinhos. E outras vezes, quatro, conforme a azeitona havia. Se havia muito aperto, dormia-se menos. Se havia pouco aperto, dormia-se mais. Conforme. Houve um ano que a “Inverna” foi muita. Foi uma “Inverna” aí de chuva, chuva, chuva, chuva. Mas parava-se sempre do Natal a Janeiro.
No dia 24, começava-se a dividir o azeite por os donos do lagar. Do que lá havia na pia, tiravam um “x” de maquia para outra pia que ele lá tinha. Depois íamos buscar o do poço ladrão. É um poço que o lagar tinha lá no fundo onde se larga o “aziabre” da azeitona. As reservas tinham um coiso e alguma gota que ia para lá ia toda para aquele rego. Depois, quando está cheio, abrem uma torneira e aquilo vai directamente para a ribeira. A azeitona, se não for bem curtida, amarga. E o que amarga é o “aziabre”. A água que saía das tarefas ia toda para aquele sítio também. Então, o azeite vinha ao de cima da água. O azeite não vai ao fundo. Se experimentar botar 2 ou 3 litros de água no coiso, o azeite não vai ao fundo. Não vai ao fundo em lado nenhum, porque chegando a água já prendia. A vara mágica. Nem no vinagre o azeite vai ao fundo. Então, botava água, era bem batido com um pau e ia-se vendo com a varita. Depois, provava-se, se ele estava bom, se não estava. Mas o azeite do poço ladrão, às vezes, dá gosto. Naquele tempo diziam-me assim:
- “Vai lá acima e traz umas tantas carcaças.”
Às duas da manhã, já além vinha buscar pão à padaria. Chegava lá, abríamos as carcaças. Se iam quentes, não era preciso mas, se iam frias, aquecíamos no lume. Depois botava-se o azeite:
- Ai, este agora já está bom!
Não saía azeite nenhum do lagar sem a gente o provar. E, se os donos lá estivessem, provavam os donos. Quando o azeite estava já pronto, tirávamos e metíamos para uns potes que eles lá tinham.