Nestas aldeias, sempre se falou do lobisomem, mas a gente não sabe se, de facto, havia o lobisomem. Não sabe se era o lobisomem que passava à meia-noite, se era algum vizinho que lá ia à meia-noite embrulhado numa capa ou num lençol branco. Isso são os contos que sempre se ouviram falar para assustar as crianças ou, às vezes, até os adultos. Lá vinha um que queria contar um conto, lá arranjava a maneira de dizer alguma coisa. Naquele tempo, se havia um que, às vezes, queria roubar a farinha a outro, começava a programar que apareciam lobisomens, como ainda aqui sucedeu-nos alguma vez. Então, era algum vizinho que proclamava isso para ir lá ao moinho de noite e trazer-lhes a farinha. Isso será mais uma história. Nunca descobri. Mas metiam um bocado de medo. Eu saía de manhã daqui com um saco às costas para ir à feira a Oliveira ou à Pampilhosa da Serra e ainda ia com medo. Via uma sombra dum pinheiro ou isso:
- Ah Está ali alguma coisa!
Metia medo às crianças e às pessoas. Ainda me lembra. Mas era só de ouvir falar e contar.