O casamento não foi nada especial. Foi aqui na terra. Casáramos aqui na capela da Mourísia. É que foi a cerimónia. Naquele tempo, cá ainda se não usava ir de branco. Ia vestida assim uma cor cinzento claro. Era como a gente usava o traje. Os convidados eram a família toda do lado do meu marido e do lado dos meus pais, tios, primos... Ah, vinha a família toda. A festa era cá em casa naquele tempo. Foi o almoço na casa dos meus pais e o jantar na casa dos pais do meu marido. Comíamos as comidas que sabiam fazer as pessoas. Matavam umas cabras, umas ovelhas e assavam nos fornos a lenha. Era a chanfana com fartura. E depois fazia-se o arroz-doce, tigelada, as filhós, que é os coscoréis… Havia essas coisas assim. Fazia-se muitas comidas.
Cada um faz à sua maneira. Chanfana, eu penso que é ovelha, carne de ovelha. Mas também não tenho a certeza se é ovelha, se é a cabra. Primeiro fazia-se no forno a lenha. Agora a gente já nem usa. Faz em casa. Os temperos, é difícil dizer. Cada um põe à sua maneira. O resto era a carne assada com as batatas. Ah, havia o arroz de fressura. O arroz de fressura nos casamentos e nas festas também é uma iguaria que se usa muito cá. É o sangue que se coze depois de coalhar. Coze-se aquilo antes do arroz. Senão, depois o arroz não se queria cozido. Está cozida, corta-se a fressura miudinha, à maneira, e o sangue também aos quadradinhos pequeninos. Faz-se um refogadozinho. Mistura-se ali tudo com os temperos bem temperado. E depois mistura-se no arroz quando o arroz está quase cozido. Fica bom. É o arroz de fressura. Já não me lembra que mais era. Bastava que havia muita chanfana ou outra carne do mesmo género. Era a coisa melhor que comiam. E comiam poucas vezes. Quando eram naqueles dias, enchiam a barriga.