Nunca fui à escola. Não havia. Era longe. Mesmo assim, já mandavam alguns para a escola, mas a mim nunca me mandaram. Os meus pais não mandaram e aqui os meus padrinhos também não. O que eles diziam era que as raparigas nunca deviam saber ler. Diz que a desgraça delas era saberem ler. Diz que os rapazes depois começavam-lhe a escrever cartas, que elas começavam-se a iludir e que os rapazes que as enganavam. E não sabendo ler que já não escreviam as cartas. Já não respondiam aos rapazes.
Sei assinar mal, mas aprendi. Já tinha 30 e tal anos quando aprendi a fazer o meu nome. Foi quando veio o Bilhete de Identidade para assinar. Nessa altura é que eu aprendi a escrever mal. Aprendi com a minha filha. Até foi ela que me ensinou. Ainda assim, eu já sabia as letras. Conhecia mais ou menos a letra de imprensa nos livros. Depois ela dizia-me:
- “Um «A», um «M», o «I».”
Por aí fora... E eu escrevia. Mas escrevo mal.