Depois, que é que me acontece? Eu era tão pequenina, mas tinha que trabalhar já! A minha tia de manhã ia ao mato. Roçar mato era: tinha-se uma corda, uma roçadoira ou um podão, que havia naquele tempo e agora também há. O menino ficava a dormir e a minha tia levava-me de manhã com ela. E no caminho, na encosta, lá mais perto, fazia-me um “vassoirito” e punha-me às costas. Mas que molho é que eu trazia com aquela idade? Mesmo assim até isso já exploravam duma criança. Ela tinha só uma cabrita e tinha as ovelhas. Lá levava o mato para as mais e eu já levava para a cabrita que era só uma. Depois mandava-me lá ir pôr à porta do curral e eu ia lá pô-lo. Então, ia tomar conta do menino, que era as ordens que tinha quando ele acordava.
Houve um dia que ela não esperou por mim. Estava com pressa, chamou-me e disse-me onde é que eu havia de ir ter. Eu já sabia para ir lá ter. Era onde ia aos outros dias. Mas ela chamou-me, deixou-me na cama e eu adormeci. Adormeci, não me lembrou mais, não acordei, não fui lá ter. Ela chegou a casa, zangou-se comigo e mandou-me embora. Diz que o menino estava a chorar, que estava estafado com o chorar e que nem fui buscar o molho de mato nem tomei conta dele. Juntou-me os vestiditos que eu tinha e pôs-mos num saquito. Até era grande para mim.
Quando a minha tia me mandou embora, cheguei a casa a chorar, porque ainda tinha medo que o meu pai me batia. Era uma criança. Tinha adormecido. Mandaram-me embora, mas eu sabia que o meu pai queria que eu que estivesse lá. Mas, como ela me tinha mandado embora, lá escapei. Não me bateram.